Está
na ordem do dia a questão do destino do Forte de Peniche, já uma vez descrevi o
uso dado a este Forte desde o início do Redondo até ao momento presente.
No meio de ideias um pouco antagónicas importa não esquecer o seguinte:
- Este é um Monumento Nacional, pelo
que qualquer decisão vem sempre da tutela governamental, podendo de certo modo
a opinião local e/ou a autarquia ter influência na decisão se for essa a
disposição governamental.
Posto
isto que para mim é basilar, despindo todos as vestimentas das ideologias,
pensei no seguinte:
Qual foi o
destino da prisão de Nelson Mandela?
- Robben Island, ilha-prisão que manteve sequestrado Nelson
Mandela durante 18 anos, situada a 20 minutos da Cidade do Cabo, não foi
transformada em hotel, mas sim num memorial de homenagem da luta contra o
apartheid.
Assim
esta ilha-prisão agora transformada em memorial, é visitada diariamente na
época alta por cerca de 2000 pessoas, onde com visita guiada é explicada como
era a vida naquela prisão.
- As memórias têm de se manter vivas, assim se
fez com Auschwitz, em memória dos milhares de judeus presos e mortos
neste campo de concentração, hoje transformado num museu da memória para os vindouros,
não fazia sentido, transformar “aquilo” noutra coisa senão num monumento de
profundo respeito pelos que sofreram e morreram às mãos dos nazis.
- Poderia referir aqui o Edifício da Exposição
Comercial de Hiroxima, cuja cúpula resistiu após a deflagração da Bomba
Atómica em Hiroxima e que hoje é um memorial aos mortos e sobreviventes, um
local de respeito e homenagem para os japoneses.
Da
mesma maneira que não teria classificação se transformassem o Circo Romano,
palco de milhares de mortes de cristãos perseguidos, num qualquer hotel de 5
estrelas.
Continuemos
o nosso raciocínio e imagine-se um grande centro de reclusão e tortura de
pessoas, onde fosse construído um hotel, os hóspedes desejam estar em harmonia
com o local, onde anseiam por uns dias calmos e bem passados, mas, não haverá
aqui uma situação contraditória? Qual a sensação de um casal que se instala
neste local e sabe que no seu quarto ou ao lado, ali naquela zona, houvera
pessoas que sofreram tortura, pessoas como nós, como eles, qual a sensação?
Se
fosse eu não me sentiria bem, por outro lado, numa altura em que os tempos se
vão escurecendo reavivando velhos fantasmas que grassaram pela Europa, é bom,
diria é fundamental que a memória dos tempos seja respeitada.
Tenho
amigos que pensam de modo diverso do meu, mas respeito todas as opiniões, não
sigo “guias de instrução”, pelo que a minha opinião só me vincula a mim,
simplesmente.
Entendi
publicar este pequeno texto, que pouco poderá valer, mas é a minha opinião e
acho que todos devem exercer o seu direito de cidadania, exprimindo a sua
opinião.
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1 comentário:
Meu caro Chico,
Assino por baixo, todo o conteúdo deste simples e tão lúcido artigo sobre a fortaleza (outrora o cancro e a imagem do fascismo na nossa querida terra) que, pelas razões e exemplos que referes,são locais (cultos), onde as feridas que ficaram,jamais podem ser apagadas de um povo,de um qualquer país com memória...Abraço.
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